Mãos que nada paga
“Põe
o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende tua mão e coloca-a no meu lado.
E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20, 27).
Tais
palavras ainda ecoam no coração, elas não adormeceram, mesmo que a rotina
queira esconder, e esconde. Esconde nas chagas invisíveis, esconde aquelas que
teimamos em não mostrar por achar que é fraqueza ou mesmo por pensar que não
encontrará acolhida.
Mas
a que dói mais são as escondidas pelos anos, pelo acostumar-se, as que olhos já
não vertem lágrimas, já não incomodam mais, essas fazem as chagas cicatrizarem,
mas só aos olhos, por que elas ainda minam, ainda clama por cuidado. Por amor.
Por fé. Por mãos que nada paga.
As
chagas do Cristo, as que Tomé não tocou, eram já as gloriosas. Mas as que hoje
devem ser tocadas são de dores e de cruz!
O
domingo da misericórdia trouxe o evangelho citado no começo, que me atrevo a
fazer uma analogia. Misericórdia deve mesmo ser por o dedo nas chagas, na
miséria do outro, é enxergar o que ninguém mais vê, o que por vezes nem o caído
ver mais, ver o que ele tem de bom. Misericórdia deve mesmo ser ‘jogar na cara
do outro’ o que ele tem de bom,
pedras já foram muitas, não precisa mais.
Misericórdia
deve mesmo ser o desacostumar-se, o olhar de forma sagrada, olhar quem está ao
lado e as vezes só vemos o seu erro, a sua mania, a sua fraqueza. Misericórdia
deve mesmo ser o voltar a enxergar o outro como algo maior, com a beleza com
que fora criado.
Mas
há os de longe, as chagas quase que invisíveis, as chagas que precisam de encontro,
de olhar, de cuidado, de amparo, de tempo!
Por
que fidelidade deve mesmo ser colocar o dedo nas chagas, nas feridas do mundo e
entender que mais que belas liturgias, é preciso belas ações pelo povo. Afinal não
é isso liturgia? Palavra grega que quer dizer exatamente isso – Laós = povo e Urgía = trabalho – E o
Cristo continua a nos dizer, “não seja incrédulo, mas fiel”, coloca o dedo na
ferida do Senhor que clama... por mãos que nada paga.
Profetisa
a canção: “como receberás o sol no outro dia? A luz te lembrará o semblante
dele”.
O semblante do Cristo caído e flagelado, mas teimamos em dar-lhes nomes que não são teus, os batizamos novamente com o nome de suas dores, enfermidades e vícios. Mas ainda, diz Deus; “A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn 4, 10).
O semblante do Cristo caído e flagelado, mas teimamos em dar-lhes nomes que não são teus, os batizamos novamente com o nome de suas dores, enfermidades e vícios. Mas ainda, diz Deus; “A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn 4, 10).
O clamor das chagas abertas do que
sofre chega ao céu, e silencia o coração e boca de Deus Pai, vai
dizer a teologia que Deus nunca deixa de falar, de criar, sua voz é que
sustenta a terra; mas as dores dos pobres tapa a boca sagrada de Deus, o
emudece, a única coisa que silencia Deus é o sofrimento do homem, em especial,
do justo e do pobre!
Senhor...
que o mundo encontre dedos capazes de tocar com cuidado as suas feridas. Que sejamos
nós aqueles enviados do Pai “a curar os quebrantados de coração” (Is 61, 1). A
tocar com amor, feridas que só cicatrizam
pelo cuidado de mãos que nada paga!
E a
história diz dessas mãos:
“O jornalista
pergunta a Madre Teresa, que limpa e acolhe um leproso
-
Irmã, eu não faria isso nem por um milhão de dólares!
Madre
Teresa responde:
- Eu
também não faria por esse dinheiro. Faço por amor a Deus e a esse meu irmão doente” (sem fonte)
Amém!
Imagens: http://pt.slideshare.net/grupodepaisceb/lei-de-amor-e-caridade
http://santonioaracatuba.com.br/a-boa-noticia/2%C2%BA-domingo-da-pascoa/
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