Dor. Graça!

Dor. Graça!

Gosto de ter um título para escrever, gosto de ter um desafio para ser superado, e superação como a dum braço de um rio, que supera muitas barreiras contornando-as. Quero convencer corações, meu coração, de que superar não é acabar com o problema, a angústia. Mas muitas vezes fazer dele uma lagarta que se transforma em borboleta. Fazer como o Fernando Pessoa, “pedras no caminho? Juntarei todas, um dia farei um castelo”. Essa superação que vence e aniquila os limites, faz poeira das barreiras, essa superação nunca saberá o que é um castelo com jardim e pomar (cheio de pitangas, seriguelas e abacaxi!!!) e por quê? Porque pensam que o inimigo é derrotado quanto o matamos, mas não, assim ele continuará vivo, e talvez até mais que antes, vencemos e destruímos o inimigo fazendo dele um amigo.

Fazer da dor uma amiga? Sim! Como é bom ter amigo que é “uma pedra no caminho”, que se transforma em castelo. Não quero pseudoamigos que ficam a passar a mão na cabeça. Quero amigos como Deus, que me partilha angústias. Fiquei pensando... conto todos os meus sentimentos a Deus, mas e Ele? Me conta os seus? Porque para mim isso é ser amigo, e percebi que sim, Deus me conta de seus sentimentos, colocando-os em mim, sua alegria me enche de júbilo, “transborda a minha taça” (Sl 23,5). Conta até de suas angústias mais profundas, me fazendo ter no coração compaixão, em especial de suas crianças enfermas, como dói no peito vê-Lo crucificado nelas (CF MT 25). Mas tenho um medo, por isso rogo que Ele me conceda este dom - temor de Deus.

O medo é me achar melhor que Ele – sumo Bem. É tentador pensar que faço o que Ele não faz, porque eu vou ao hospital, vejo aquelas crianças e suas mães, ganho-lhes um sorriso, uma hora ou outra. Por mim, se pudesse, curaria a todos (e Deus?). Para alguns, ali naquele ambiente, Ele os abandonou. Mas Deus não pode, Ele não! Porque “pode uma mãe esquecer o filho que amamenta? Mesmo que essa mãe esquecer seu filho, eu – o Senhor – não me esquecerei de ti” (Is 49, 15).

Mas eis a graça! O temor transforma o medo em coragem para entender que cada visita feita é Deus quem a faz, Ele em nós! Porque essa angústia não é minha ou sua, é Dele, a iniciativa é toda do Nosso Deus. Podemos perceber a onipresença divina na visita a um enfermo, porque Ele diz “estive enfermo e me visitaste” (Mt 25). Ele visita e é visitado.

Entendo que esse é mais um significado para a absurda frase do Dr. P. Brand, “a dor é a maior graça divina”. Ele diz isso após vários anos cuidando de leprosos, no seu leprosário, nos EUA, deixou muita coisa pra cuidar deles. Esses perdem seus membros por não sentirem dor, o desejo do leproso é sentir dor, dor em sentir a pele queimar ao se aproximar do fogo. Leprosos podem, por exemplo, morrerem queimados comendo algodão doce. O significado que imaginei foi: a dor humaniza, tanto a do outro, como a minha própria. Se a dor do mundo, se a sua dor, ou a minha dor não nos fizer melhores, mais humanos, o que pode fazer?

Há dores que vêm para o bem, há dores que vêm e ficam, há dores como um espinho na carne, que como no apóstolo (Cf. 2Cor. 12,7) nunca saíra da nossa alma, porque é ela que vai nos lembrar do barro que fomos feitos.

Que a graça nos baste, Senhor!

AlanVeloso... Com uma pitada de Amanda Santos (Manditaaa)