sexta-feira, 15 de março de 2013

O Fim sustenta o meio


O Fim sustenta o meio

Ao começar o estudo teológico pude perceber a graça que transborda dos livros, escritos de “joelhos”, para a vida, a disciplina de moral fundamental me falou que não dá para viver uma vida ética sem que, aquele que foi igual a nós em tudo menos no pecado, nosso Senhor, nos oriente e sustente com sua graça.

Se a filosofia ensina que pode ser o homem seu próprio guia, livre para fazer suas escolhas autônomas, a teologia faz arder o coração e convence que sozinho não posso e nem quero e não vale a pena arriscar.


Porque querer carregar um fardo pesado sozinho como este, das escolhas solitárias, se posso além de contar com meu Senhor que se dispõe: “Vinde a mim todos que estais cansados... Meu peso é leve, meu fardo é suave”? E tenho ainda o mais bonito, que é quando os “Cirineos” aparecem, que longe de serem obrigados, como o do evangelho (Mt 27,32), se alegram em tomar para si as dores que são tão nossas.


Posso dizer: “conheci Cristãos”, desminto Nietzsche, o último cristão NÃO morreu nos braços da cruz, há quem entendeu que o Amor é graça, não penhora.


Sendo graça a única recompensa será ter amado. Volto à ‘vã’ filosofia para invocar a causa final aristotélica, tão em desuso, que diz que tudo, sem exceção, é criada para um fim, o pé de manga produz seu fruto para um fim, alimentar a homem e os animais, a ciência moderna rejeita o sábio filosofo, dizendo que a mangueira não tem essa intensão. Tudo bem talvez ela não tenha mesmo, mas que bonito essa coisa de causa final, é até poético.

A mangueira produz seus frutos com a intensão de nos saciar.

Mas se realmente ela não tiver intensão... Nós temos!

Qual minha causa final? E a sua?

Será o prazer sem alegria? Mas a vida gasta assim nos torna semelhantes aos animais no cio. Será o sucesso? Mas ele é algo extrínseco o prêmio está no que merece o sucesso não no próprio sucesso. Será a riqueza? Mas ela não é fim é meio.

O fim é algo que vale a pena, mesmo que o meio seja difícil, como a cruz de Cristo, nosso Senhor, ela foi um meio duríssimo, mas o seu fim é esplendido, vale a pena. O fim é aquele que transforma, não para em si mesmo, como a mangueira que doa seus frutos a outro ser, isso é um fim, se superar, altruísmo puro. O pior é que pensamos que viver vale mais que a honra e a dignidade, certa vez o psicólogo, que viveu os horrores da guerra, Victor Frankl, no livro “Em busca de sentido”, dizia que em auschwitz (campo de concentração), os bons eram quem morriam, exatamente porque compreenderam que "uma vida sem busca de sentido não é digna de ser vivida", parafraseando Platão. 

Uma vida sem causa final não satisfaz, ver meu irmão morrer porque lhe roubei a comida é viver com um peso grande de mais na consciência, uma vida que se aproveita de quem vive o mesmo suplicio seu é uma covardia existencial terrível, mas o triste é que somos parecidos com os “kapas”, soldados judeus que vigiava seu próprio povo com maior rigor que os nazistas. Preferimos viver uma vida tosca, fazendo o que penso ser um dos atos mais terríveis que a humanidade pode fazer, passar de oprimido a opressor.

Mas há quem busca, e “quem tem um porque viver pode suportar qualquer como viver”, nessa o Nietzsche acertou, o final feliz nos move. Aqui nos assemelhamos com Cristo, até pedimos para ser afastado o cálice de sangue, mas que seja feita a vontade superior, de Deus (Mt 26, 39), porque a cruz não é fim é meio para algo muito maior. que tem sentido.


Triste ver as faculdades de Medicina, não só elas claro e com muitas exceções, cheias pelo que ela promete no termino do mês, seria bonito se o motivo fosse o mesmo do Patch Adans, que dizia querer ser médico para dar sentido à vida de seus pacientes enquanto viverem. Bonito também quando a tradição Católica diz que Francisco, o santo de Assis, pede para ser enterrado no rochedo dos crânios, o lugar sombrio – “Homem que o mundo não era digno”Hb11, 38 – mesmo morto transforma as trevas em luz, o lugar dos crânios virou lugar de oração visitado para rezar pela paz, pela vida digna. A causa final, os ideais, nos mantem jovens, vivos, até depois de morto. (a biografia diz que foi enterrado na igreja de são jorge e depois de sua canonização seu tumulo definitivo é a basilica de São Francisco em Assis)

Qual a causa final de um texto?

Deve ser igual ao amor com valor intrínseco, ou seja, o prêmio está em amar. Com o texto é o mesmo, o prêmio está em ser lido.

Assim se vive feliz, com causas finais, com o prêmio nela mesmo, não morrendo pelo que está fora e que acaba sem saciar.

O prêmio do Cristão está nele mesmo, não em futuras recompensas. Quem vive de recompensas não sabe que o presente é um kairós (tempo da graça), que o céu é um dom de Deus, não merecido por nós, afinal "aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível" Mc 10,27.



AlanVeloso

Um comentário:

  1. Fascinante!!!
    Ps.: Tudo que vem de você chega ao meu coração. Sempre.

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