O Fim sustenta o meio
Ao começar o estudo teológico pude perceber a graça que transborda
dos livros, escritos de “joelhos”, para a vida, a disciplina de moral
fundamental me falou que não dá para viver uma vida ética sem que, aquele que
foi igual a nós em tudo menos no pecado, nosso Senhor, nos oriente e sustente
com sua graça.
Se a filosofia ensina que pode ser o homem seu próprio guia, livre para fazer
suas escolhas autônomas, a teologia faz arder o coração e convence que sozinho
não posso e nem quero e não vale a pena arriscar.
Porque querer carregar um fardo pesado sozinho como este, das escolhas
solitárias, se posso além de contar com meu Senhor que se dispõe: “Vinde a mim
todos que estais cansados... Meu peso é leve, meu fardo é suave”? E tenho ainda
o mais bonito, que é quando os “Cirineos” aparecem, que longe de serem
obrigados, como o do evangelho (Mt 27,32), se alegram em tomar para si as dores
que são tão nossas.
Posso dizer: “conheci Cristãos”, desminto Nietzsche, o último cristão NÃO
morreu nos braços da cruz, há quem entendeu que o Amor é graça, não penhora.
Sendo graça a única recompensa será ter amado. Volto à ‘vã’ filosofia para
invocar a causa final aristotélica, tão em desuso, que diz que tudo, sem
exceção, é criada para um fim, o pé de manga produz seu fruto para um fim,
alimentar a homem e os animais, a ciência moderna rejeita o sábio filosofo,
dizendo que a mangueira não tem essa intensão. Tudo bem talvez ela não tenha
mesmo, mas que bonito essa coisa de causa final, é até poético.
A mangueira produz seus frutos com a intensão de nos saciar.
Mas se realmente ela não tiver intensão... Nós temos!
Qual minha causa final? E a sua?
Será o prazer sem alegria? Mas a vida gasta assim nos torna semelhantes aos animais no cio.
Será o sucesso? Mas ele é algo extrínseco o prêmio está no que merece o sucesso
não no próprio sucesso. Será a riqueza? Mas ela não é fim é meio.
O fim é algo que vale a pena, mesmo que o meio seja difícil, como
a cruz de Cristo, nosso Senhor, ela foi um meio duríssimo, mas o seu fim é
esplendido, vale a pena. O fim é aquele que transforma, não para em si mesmo,
como a mangueira que doa seus frutos a outro ser, isso é um fim, se superar,
altruísmo puro. O pior é que pensamos que viver vale mais que a honra e a
dignidade, certa vez o psicólogo, que viveu os horrores da guerra, Victor
Frankl, no livro “Em busca de
sentido”, dizia que em auschwitz (campo
de concentração), os bons eram quem morriam, exatamente porque
compreenderam que "uma vida sem busca de sentido não é digna de ser
vivida", parafraseando Platão.
Uma vida sem causa final não satisfaz, ver meu irmão morrer porque lhe roubei a comida é viver com um peso grande de mais na consciência, uma vida que se aproveita de quem vive o mesmo suplicio seu é uma covardia existencial terrível, mas o triste é que somos parecidos com os “kapas”, soldados judeus que vigiava seu próprio povo com maior rigor que os nazistas. Preferimos viver uma vida tosca, fazendo o que penso ser um dos atos mais terríveis que a humanidade pode fazer, passar de oprimido a opressor.
Uma vida sem causa final não satisfaz, ver meu irmão morrer porque lhe roubei a comida é viver com um peso grande de mais na consciência, uma vida que se aproveita de quem vive o mesmo suplicio seu é uma covardia existencial terrível, mas o triste é que somos parecidos com os “kapas”, soldados judeus que vigiava seu próprio povo com maior rigor que os nazistas. Preferimos viver uma vida tosca, fazendo o que penso ser um dos atos mais terríveis que a humanidade pode fazer, passar de oprimido a opressor.
Mas há quem busca, e “quem tem um porque viver pode suportar qualquer como
viver”, nessa o Nietzsche acertou, o final feliz nos move. Aqui nos
assemelhamos com Cristo, até pedimos para ser afastado o cálice de sangue, mas
que seja feita a vontade superior, de Deus (Mt 26, 39), porque a cruz não é fim
é meio para algo muito maior. que tem sentido.
Triste ver as faculdades de Medicina, não só elas claro e com muitas exceções,
cheias pelo que ela promete no termino do mês, seria bonito se o motivo fosse o
mesmo do Patch Adans, que dizia querer ser médico para dar sentido à vida de
seus pacientes enquanto viverem. Bonito também quando a tradição Católica diz
que Francisco, o santo de Assis, pede para ser enterrado no rochedo dos
crânios, o lugar sombrio – “Homem que o mundo não era digno”Hb11, 38 – mesmo
morto transforma as trevas em luz, o lugar dos crânios virou lugar de oração
visitado para rezar pela paz, pela vida digna. A causa final, os ideais, nos
mantem jovens, vivos, até depois de morto. (a biografia diz que foi enterrado
na igreja de são jorge e depois de sua canonização seu tumulo definitivo é a
basilica de São Francisco em Assis)
Qual a causa final de um texto?
Deve ser igual ao amor com valor intrínseco, ou seja, o prêmio está em amar.
Com o texto é o mesmo, o prêmio está em ser lido.
Assim se vive feliz, com causas finais, com o prêmio nela mesmo, não morrendo
pelo que está fora e que acaba sem saciar.
O prêmio do Cristão está nele mesmo, não em futuras recompensas. Quem vive de
recompensas não sabe que o presente é um kairós
(tempo da graça), que o céu é um dom de Deus, não
merecido por nós, afinal "aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é
possível" Mc 10,27.
AlanVeloso
Fascinante!!!
ResponderExcluirPs.: Tudo que vem de você chega ao meu coração. Sempre.