quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ciência sem fronteiras

Ciência sem fronteiras

Diz o ditado que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Triste é que o médico, racional, feito para salvar vidas, matou o louco, emoção.
Em um mundo onde a ciência é a fada madrinha, aquela que pensa resolver todos os problemas, lentamente foi minando o coração, o simbolismo, Deus.
O poder da fada madrinha, o médico, a razão, a ciência, nos faz querer ser todo dela, não só um pouco, mas todo! Lembro-me do que é um hospital, lugar estéril - e é necessário que ele seja. Médico depois que lava a mão só a usa para a luva descartável. Mas, infelizmente, a esterilidade do ambiente hospitalar ultrapassa as portas da enfermaria, chega aqui fora.

É por isso que o louco em nós tem que renascer, louco não se importa em lavar as mãos e logo depois dá-la a quem encontrar, não fica se martirizando com pensamentos bobos, estéreis.
Nosso coração, depois de tantos vestibulares, passou no “curso de medicina”, tão concorrido. Todos querem um coração doutor! Todos querem parecer inteligentes e para isso, têm que matar o que faz arder o coração. Tem que desligar os aparelhos. E desligam! Há muitas ciências que causam lepra no coração, na alma. Lepra é doença da insensibilidade, quem tem lepra no dedo mindinho do pé não se importa em batê-lo na quina da porta. Quem tem lepra no coração, não se importa em ver gente morrendo, gente se matando.
Mas é vã a luta deles, sempre haverá loucos! Sempre terá uma flor a nascer da fenda da rocha. A lua sempre há de brilhar na escuridão, mesmo que seja por detrás de nuvens pesadas. Porque a razão nos leva até certo ponto, daí em diante a fé tem de voar, para que o mundo não se transforme num mês de junho frio sem fogueira, quadrilha e canjica.
E o melhor: sempre haverá os que entenderam que essa fada madrinha, a ciência, é uma feiticeira, que pode ser muito má se não souber que um mundo real e concreto não pode sobreviver sem imaginação, magia e encanto!
Por tudo isso, e além, amo crianças. Acho-as tão maduras. Já viram uma mãe que corrige o filho, e ele, assim mesmo, corre para chorar nos braços daquela que o corrigiu? Muita maturidade, eu acho. Muitos de nós crescemos e perdemos a beleza de ser feliz, deixamos a felicidade, por pensar que muitos nos acharão fracos. Insistimos em ser médicos, no álcool e nas vacinas, insistimos em nos imunizar, em tomar todos os cuidados, para não pegar nada de ninguém, e esquecemos que é bom pegar dos outros o sorriso, o abraço, as mãos!“Bom mesmo é ser bobo”, como diz Clarice Lispector, porque “os espertos ganham dos outros, em compensação, os bobos ganham a vida”. Diferente dessa feiticeira, que muitas vezes nos sugere que vivamos a sós, com nosso álcool em gel e sem pés no chão, a correr o risco de abraçar e ser feliz, por medo de pegar uma doença “pudinesca” ou sei lá o quê. Não digo de não nos cuidarmos e evitar uma tuberculose, alerto para não nos esquecermos de ser bobos por causa de um perdigoto tonto, que pooodee ser que me cause um resfriado.

Chamo a Clarice novamente, “o esperto não dorme à noite, com medo de ser ludibriado”, tem gente assim, não é mesmo? Não dorme à noite, planejando ser feliz amanhã. Prefiro dormir e ser feliz. “Louco” tem maior possibilidade de ser feliz. “Louco”, diferente do “médico”, estéril, dá frutos e é feliz fácil...
Um cabo de vassoura vira um cavalo alado, onde ele enfrenta dragões, salva seus amigos e os abraça e nunca deixa sua tão amada felicidade para traz.


Alan Veloso - com ajuda tão, tão louca de Amanda Santos (Manduti)

2 comentários: