segunda-feira, 29 de setembro de 2014


  
 Porque a prostituta me precede? (Mt 21, 31b)
Porque o publicano é elogiado? (Lc 18, 9-14)
Porque uma ovelha a noventa e nove? (Mt 15, 3-7)
Porque de braços abertos para o filho que gasta tudo? (Lc 15, 31)
  

Confesso me perturba, mas também me consola, em especial por que não é uma prostituta convertida que o Senhor fala, de onde vem essa precedência? Não tenho para onde correr, só me resta a graça, graça que basta, graça que não olha o merecimento, graça que não se corrompe, palavra milagrosa que tem sentido nela mesma, de graça, que tem graça, que não precisa trabalho, o labor nosso é querer o que se doa, aceitar a graça e torná-la preciosa, prostituta que se orna de graça preciosa nos precede e nos acolhe no Céu. 

   “Fariseu” que não é 'pecador', que cumpre seus preceitos, vive de merecimento, coisa chata ter amigo que faz tudo para merecer nossa amizade, esse não fica muito ao nosso lado, amizade não necessita estar preso a acertar sempre. É por isso que o Senhor elogia o publicano, amigo não precisa acerta sempre, mas se perdoar, só ama quem já (se) perdoou; o elogio nasce dai, preferível um amigo que erra e pede perdão, que um que só nos mostra o que acha ter de bom, bijuteria.

   Nesse falta generosidade, talvez mais, falta confiança, generoso é quem doa dinheiro, bens, tempo, “quem confia doa a si mesmo” Jean Vanier, homem que conhece a graça, fundador da Arche, que cuida de deficientes mentais.

   Mas a graça se torna ainda mais surpreendente quando ela se faz de pastor, que vai atrás de uma ovelha, ovelha que pode ser publicano ou fariseu, prostituta ou sacerdote, pecador confesso ou pecador indiferente, não se sabe, simplesmente vai; deixando noventa e nove, graça não para em perguntas racionais, como: será que é gorda e forte? Será que vale a pena buscá-la?

   Quem se acha entre as n9venta e n9ve corre o risco de recusar a graça – que alcança quem não “merece” – corre em direção contrária do Deus Emanuel, Deus compaixão, que se esvazia (Kenosis, Filipenses 2, 5-11), que sofre do mesmo “pathos”, do mesmo sofrimento, “que carrega sobre si nossos pecados” (Cf. Isaías 53, 4), há pessoas que faz o caminho contrário – me recordo da expressão: “em país de fugitivos, quem corre para o lado oposto parece estar fugindo”.

   Queremos ser Deus, ó Adão! Deus quis ser homem! Queremos ser Deus no que não podemos, não podemos não pecar – obrigado Papa Francisco: “O lugar privilegiado para o encontro com Jesus Cristo são os próprios pecados. Se um cristão não é capaz de sentir-se pecador e salvo pelo sangue de Cristo, é um cristão pela metade do caminho, é um cristão morno”. (HOMILIA: QUINTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO) – mas podemos ser Deus, ser como Ele, no amor, na graça.

   Podemos quando somos filho pródigo e pai misericordioso e não insistindo em ser filho mais velho, que da birra ao ver a graça sendo dispensada a quem não merece. Filho mais velho briga com o pai, Deus de compaixão, por ser “merecedor”, por sempre estar na Igreja e não ter o que o filho pródigo teve, ora exclama o pai, como não!! Tudo que é meu é seu - ainda vive esse risco, de estar na graça e não se lambuzar, como criança com brigadeiro, se ‘invernisão’ de santidade e ficam impermeáveis.

   Quem não vive sob a graça só vê desgraça, só joio, mas estar na graça é nunca perder a esperança, que nos move, que nos faz acreditar que Deus age na história, acolher sempre o que está(va) perdido, o que quer se achar, é sempre “cuidar do trigo e não perder a paz por causa do joio” (Papa Francisco - Evangelii Gaudium. nº 24), santidade do Deus compaixão é salvar o que está perdido, é levar a graça a quem não merece, sem causar a imposição da conversão, graça não impõe conversão, mas sim! O segmento a Jesus torna a graça preciosa, não buscar melhorar faz da graça uma bijuteria, valorizar a graça é viver “achado” por Deus, somos o seu reino, ele deixou tudo e veio nos comprar (Cf. Mt 13, 44), Cristo nos achou, somos seu tesouro escondido, “perdido”, Deus procura o escondido, vai em busca do perdido apaixonadamente.

      Acredito nessa evangelização, ela não impõe conversão, mas move o coração “achado” para uma entrega gratuita, uma graça! Conversão!!!

   Deus! Dai-nos a alegria de tornar sua graça preciosa, santifica-nos, faz-nos compassivos. Faz-nos ir buscar os perdidos e mostrá-los que podem ser tesouros achados.

   Diante de tudo isso, os porquês, indignados, se tornam tranquilos e serenos amém... Não amém inertes, mas amém que movem corações, movem para o amor, para a compaixão.

   Sofrer da mesma dor... Esse é o modo de sermos como Deus!!!


   
  
  
 AlanVeloso

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